As coisas têm corpo. Espaço penetrável de passagem. Nos trabalhos de Carol Velásquez, mesmo a pintura é penetrável, participante, herdeira de ludicidade, como se a cor, o ser, o símbolo, a linha, os suportes de papelão ou madeira de suas pinturas quisessem brincar com o nosso aparente distanciamento. Nossa transcendência diante de sua bidimensionalidade.
Como em Miró, Dubuffet e Basquiat, a pintura de Carol tem urgência de comunicação, é anti-clássica, persegue o fabuloso, o cotidiano, o memorial, parece pedir a participação. Pedir imanência.
C. Velásquez quer o corpo que se encanta de dentro e não de fora da obra, quer usá-lo, devorá-lo, corrompê-lo de seu estado de inanição. Veja o “Tambor de mola”; estruturas com latas sobrepostas de modo a formar uma parede, com molas que saltam da lata e tocam o corpo do espectador quando passa entre as estruturas montadas, e emitem sons; do contato da pele do espectador com o objeto.
Este objeto-instalação remete aos penetráveis de Hélio Oiticica, no que diz respeito ao contato do corpo com a cor e ao caminho de passagem por onde o espectador adentra, e ao contato direto com o objeto com os penetráveis de Jesus Soto; as linhas que tocam a pele. É também uma engenhoca musical como uma escultura sonora do guru tropicalista Walter Smétak.
Se a pintura de Carol é imagética, lúdica, quase pop, o seu encaminhamento tridimensional é musical, lúdico, lírico e, mesmo, construtivo, pelo viés Neoconcreto. Ou seja, há uma íntima coerência entre as suas pinturas e o seu desenvolvimento no espaço. Uma continuidade complementar. Do corpo pedindo passagem, abertura, acesso, contato. Do corpo que se ilumina pelas cores vibrantes de suas pinturas ou pela existência que nos é revelada-iluminada pelo toque do corpo com o “Tambor de mola”.
A idéia de “passagem” em C. Velásquez é a de um tempo duradouro na experiência breve da passagem do espectador pelo “Tambor de mola”. É também o chamamento para o prazer do espaço lúdico. A preocupação da artista com o espectador e suas ressonâncias gera um movimento sedutor em sua pesquisa. Um movimento que quer alcançar o espectador pela camada fina da pele, por suas leituras não-verbais e íntimas. É o corpo vibrando do espectador que Carol busca, e não sua erudição.
O que Carol Velásquez aspira, seja nas pinturas ou em suas experiências tridimensionais, é romper a distância entre o objeto e o corpo do espectador, quer envolvê-lo, assombrá-lo, para que ele sinta no corpo, para além do olhar. Carol pede passagem para o corpo. Um encantamento direto, sentido na pele, nos ossos, na carne.
Um comentário:
Adorei o trabalho da Carol, apaixonei!
Quero o contato dela, me senti "em casa" com esses desenhos "molezinhos".
=)
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