imagem: rogério pinto

6.4.08

Urgência do sublime


Isto não são nuvens. Este não é o céu. Este muro preto, não é um muro. Isto não é uma paisagem. E isto não é uma galeria. Desde René Magritte, “Isto não é um cachimbo”, até Lygia Pape “Isto não é uma nuvem”, é que os artistas vêm discutindo o domínio da representação como espaços para pequenas ou grandes farsas transformadas em verdades constituídas. Fábio Tremonte, ao apresentar seu projeto para a fachada da galeria Vermelho, sabe que o céu não é o céu e que o muro preto tão pouco está ali. O que o artista propõe para a fachada da galeria é o seu disfarce, a sua não-representação, sua Camuflagem; palavra com que nomeia o seu trabalho.
A galeria está invisível. A paisagem/camuflagem torna possível a invisibilidade das coisas “reais”. Fábio revela o exterior do cubo branco e o toma para si. Volta-se para a rua para comunicar o seu gesto mínimo. Zen. Apresenta o seu espaço de silêncio e nos traz a sua revelação em uma poética do sublime. Deixa-nos evidente o seu disfarce e não quer transcender, quer se misturar, fundir-se, confundir-se. Não sobe aos céus, desce com o céu para o ordinário plano terrestre. E não quer o céu como representação realista, o quer como um organismo que muda suas características para adaptar-se ao meio em que vive. E para adaptar-se recorre ao sublime.
Outro elemento importante é a presença do azul. Não é de hoje que Fábio o persegue em sua poética. Desde o azul do céu, do mar, até a cor em si. Como em seus desenhos, fotografias, instalações e pinturas, onde o azul é uma constante. Talvez por ser o azul a mais imaterial das cores - e por isso tenha dito a escritora Clarice Lispector que “o inalcançável é sempre azul” - é que Tremonte a persiga incansavelmente.
O preto também presente, numa faixa-muro, podendo evocar o céu noturno, a morte, o nada, o caos, ou apenas a ausência de luz, surge como elemento de transição e contraste a segurar o fardo do azul nas costas, a lhe dar luminosidade. Como nos versos do poeta Murilo Mendes: “Sem o filtro da morte/ quem me faz absorver o azul?”
Extraindo o fato metafísico e Zen do projeto de Tremonte, importa pensar na urgência banal dos lambe-lambes (mídia utilizada pelo artista) a povoar os muros da cidade com sua publicidade, sujeitos às intempéries do tempo, como as chuvas, de que ironicamente a própria natureza das nuvens é produtora. A impermanência das coisas também disfarçadas em sua comunhão com o real, de que ela, a obra, não existe dentro da lógica do cotidiano, mas que, inevitavelmente está ali e pode ser vista.
Fábio em sua instalação Camuflagem se utiliza de elementos urgentes da comunicação das ruas para compor o seu disfarce, porque também tem urgência. Urgência em inventar um gesto sublime no espaço e no tempo. Urgência em poetizar a nossa percepção.

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